No momento, a situação do programa espacial
brasileiro é de paralisia, com atrasos sucessivos nos projetos que não
permitem atualização tecnológica, pois acabam obsoletos antes de ficarem
prontos.
Nos tempos da Embratel, o Brasil comprou
duas gerações de satélites de comunicações, Brasilsat A e B. Nestas
compras, o conteúdo local se restringiu a estágios técnicos para
funcionários do Inpe nas empresas fornecedoras estrangeiras.
Após a privatização da Embratel, as empresas brasileiras operadoras
compraram mais satélites de comunicações, agora sem qualquer
participação das instituições governamentais dedicadas às atividades
espaciais, a Agência Espacial Brasileira (AEB), o Inpe e o DCTA.
O primeiro projeto no Brasil foi o de um satélite geoestacionário para
comunicações, que seria integrante do projeto SACI, na década de 1970.
Entretanto, após esta iniciativa que não saiu do papel, nunca foi
incluído no Programa Nacional de Atividades Espaciais o desenvolvimento
de um satélite geoestacionário para comunicações. Agora, temos o projeto
do Satélite Geoestacionário Brasileiro (SGB), cuja implantação será
coordenada por uma empresa criada para essa finalidade, a Visiona.
O SGB é um resultado já em andamento dos novos rumos do programa
espacial brasileiro, que, como foi enfatizado em reportagem publicada
neste jornal no último dia 26 ( O Vale - São Jose dos Campos), é hoje
parte fundamental da Estratégia Nacional de Defesa (END) e vai requerer
um elevado grau de orquestração gerencial e orçamentária. Como uma das
três áreas prioritárias da END (espacial, cibernética e nuclear), o
setor espacial deverá atender a diversas demandas do País, que incluem
as áreas de defesa, meio ambiente, comunicações, transporte e logística,
meteorologia, entre outras. O envolvimento da indústria e a
qualificação de recursos humanos são também prioritários, dentro dessa
nova perspectiva.
No caso específico do INPE, a verdade é que os projetos importantes
atualmente em desenvolvimento na instituição foram concebidos em um
curto intervalo de tempo, na gestão do atual ministro da Ciência,
Tecnologia e Inovação (MCTI), Marco Antonio Raupp, entre 1985 e 1988.
São eles o programa dos Satélites Sino-Brasileiros de Recursos
Terrestres, o CBERS, em parceria com a China; o Centro de Previsão de
Tempo e Estudos Climático (CPTEC); a implantação da infraestrutura dos
laboratórios de Integração e Testes de Satélites, do Centro de Controle
de Satélites, e o desenvolvimento do primeiro satélite brasileiro, o
Satélite de Coleta de Dados 1 (SCD1). Nada de muito relevante e novo
aconteceu desde então.
No momento, a situação do programa espacial brasileiro é de paralisia,
com atrasos sucessivos nos projetos que não permitem atualização
tecnológica, pois acabam obsoletos antes de ficarem prontos. Acreditamos
que o momento é muito favorável para uma reformulação completa do
setor. Existe a possibilidade concreta de um excelente alinhamento entre
as instituições Inpe, DCTA com a AEB e com o MCTI.
São pessoas que conhecem profundamente o programa e seus problemas, e
ninguém mais indicado que o atual ministro para proceder à transformação
necessária. Há 26 anos ele mudou a face do programa espacial, criou os
projetos que dão até hoje vida ao Inpe. Tem, certamente, a experiência e
visão para mudar a face do programa outra vez.
Portanto, é inócuo supor que pretende-se desmantelar o INPE. Como
empresário do setor, acredito que o programa espacial tem agora a chance
de tornar-se uma política de Estado. Vamos dar um crédito e incentivar
os que têm condições de promover essas mudanças.
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